sábado, 18 de dezembro de 2010

Conto de Natal

O menino dentro daquele caixotinho pede um presente ao Papai Noel. Não era rico, nem era pobre, meio metido a contar histórias. Característica que o perturbava de vez em quando, porque ninguém lhe dava ouvidos. Disse certa hora a uma idosa que passava na rua: - Já sei, irás pedir um cachecol neste Natal para te esquentar. E a senhora nem daí, tampava os ouvido, já um tanto surdo, com o casaco, e seguia para casa. Em outro momento, o menino insistia em falar com os animais. Sempre repetia: - Quem ama os animais, ama a todos, sem restrição. E pensava, que talvez o que mais quisessem naquele Natal, fosse um osso bem suculento para roer, ou quem sabe, uma caixotinho que nem o seu para dormir.
Os dias se passavam daquele dezembro e o menino crescia com suas idéias. Não media esforços para imaginar a lista de pedidos de cada pessoa que passava por aquela avenida todos os dias. –Ah! Se eu soubesse todos os desejos, os pensamentos das pessoas que por aqui passam, poderia ser ajudante do Papai Noel! Para o menino, era o sonho maior que estava guardado sob o caixotinho.
Ele não sabia escrever, era verdade, mas, dia desses pediu para uma escrevente algumas linhas do seu grande desejo de Natal no papel em branco. Assim, poderia enviar para o Papai Noel. Ele esperava a véspera da data com esperança e no meio tempo, não se cansava de tentar adivinhar os pedidos dos transeuntes.
Um homem apressado vinha alguns metros do caixotinho. O menino avistou e mentalizou. – O senhor está precisando de um relógio de areia de Natal para apreciar os segundos, acertei? Foi, então, que o homem ainda caminhando apressado, revirou a cabeça e respondeu ao menino, que já tinha um relógio que lhe era útil e satisfazia-se com o seu tempo.
As noites depois do dia 20 de dezembro passaram rápido como as tantas sacolas de compras daquelas pessoas, que caminhavam pelo endereço do menino. Ele arriscou mais alguns pedidos, mas nenhum estava no caminho de alguém. Realmente, começou a pensar em uma possibilidade diferente para cada um dos estranhos que enxergava. – Nenhum deles têm pedido, a maioria passa com compras, está satisfeito eu imagino. Talvez, por isso, o Papai Noel não me chame para o serviço, terá menos trabalho, pensou.
Não importasse o que pensasse ou falasse, as pessoas continuavam a passear sem dar bola para o menino, o dia 24 chegou e o fluxo foi diminuindo no centro da cidade. Ele saiu para entregar seu pedido no ponto de trabalho do Papai Noel e voltou para o caixotinho. Ele tinha certeza do atendimento do seu pedido, mas estava apreensivo se teria encomendas suficientes para ajudá-lo naquela noite.
Noite do dia 24 de dezembro estava estrelada, cheia de abraços e presentes nas casas, as pessoas sorriam e celebravam a ceia de Natal, enquanto o menino pensava no seu pedido solitariamente no caixotinho.
No papel escrito pela escrevente e aberto pelo bom velinho, constava: - Papai Noel, ele tenta adivinhar meu pedido, mas na realidade, não tenho nenhum de valor. Diz que assim, poderá ajudá-lo melhor na noite de hoje. Ele pede que seja um dos seus ajudantes, este é seu grande sonho, e que assim, possa ser útil durante a entrega dos presentes. Será possível? Vejo brilho nos seus olhos e uma esperança que me afaga ao olhá-lo. Por isso, peço em seu nome, que lhe ofereça sempre a utilidade de acender nas pessoas um pouco do espírito do Natal, já tão desgastado entre nós. Que a sua alegria não se perca e o seu sonho persista ao tempo e se renove no próximo ano, sempre.

domingo, 22 de novembro de 2009

Passeio no xopim

Domingo de chuva, as pessoas vão para o xopim. A opção é moderna, consumista, capitalista? O que seja...ao menos para três meninos, entre 12 e 14 anos, o destino foi escolhido por lazer e fome. No xopim Beiramar, em Florianópolis, em torno de 13h, o grupo de chinelos, roupas simples e cabvelos pintados, passeavam. Passear no sentido geral, pois com uma conversa de cinco minutos podemos entender os reais motivos.

E fui, curiosamente, sem convite, sentar-me ao lado deles. Há duas meses da minha, eles recebiam lanches tipo fast food de um casal com filhos que também passeava. Enquanto comiam, pedia que atenção se dividisse para as minhas perguntas, queria saber de onde viam, com quem estavam, por que estavam ali.

Sozinhos, do Morro da Queimada, pais desempregsdos, sem dinheiro, sem companhia deles, resolveram ir ao shopping. Segundo eles, os domingos são assim. No xopim, mesmo sem dinheiro, ganham lanche, fichas para brincar nos jogos eletrônicos e às vezes atenção de alguém.

Eu fui uma delas. Enquanto todos se retiam a suas famílias, os três meninos estavam lá. Sentados, educadamente, falavam tranquilamente de suas vidas, virando-se sozinhos para se divertirem num dia em que todas as famílias, automaticamente se reúnem. Felizes com minha visita à mesa deles, saí menos triste. Um deles se virou e disse: - Obrigada pela companhia, moça.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Morro do Pico: para subir e não esquecer

No domingo, com muita disposição, subimos o Morro do Pico em Governador Celso Ramos. De manhã, o sol ainda não aparecia e a subida foi agradável. Da rua em Canto dos Ganchos que tomamos para subir até o alto do morro, foram quase duas horas. Tudo para ver uma paisagem incrível do município, do oceano, e da bíblia em bronze colocada pelo Sr. Belarmino em 1983.



No caminho de 550 metros, desviamos de teias de aranha, flores, raízes. Paramos para apreciar o absurdo do silêncio na mata, o urubu abaixo dos nossos olhos. Filipi perguntou: -Qual a sensação de estar acima dos urubus? A resposta até o momento não sei. A emoção de estar integrado ao ambiente é que poderia nos dar uma noção e só estando lá para perceber.


Na subida, levávamos nas mãos duas mudas de ameixeiras. Uma batizada de Amanda e outra de Chuva. Escolhi este nome em agradecimento. Fazia dois finais de semana que combinávamos a trilha e só a chuva nos convidava... Lá em cima, acho que entendi o motivo. A terra precisava estar preparada para receber as mudas, abrigar as raízes. Nada nessa vida é por acaso.



Ouvi sexta-feira do S. Tidoca, idoso de Governador Celso Ramos, que a disposição é a melhor coisa que uma mulher e um homem podem ter. E acho que é isso. Estando prontos para vivermos, não há melhor coisa.




domingo, 30 de agosto de 2009

Não perca as crianças de vista

Escrever sobre música não é meu forte, acho que já disse em algum momento isso, mas aprecio algumas bandas. É o caso d'O Rappa. Ontem pude ouvir mais uma vez as músicas da banda composta por Marcelo Lobato - bateirista, Lauro Farias - baixista, Xandão Meneses - guitarrista e o vocalista Marcelo Falcão em show em Floripa. O "Rodo Cotidiano" presente na discografia, a vida que pula nas ruas das cidades, o silêncio que precede nossas relações cada dia mais ágeis, velozes como as "minhocas de metal".


E é frequente também nas letras, o "corpo presente" da mídia, o poder grande invísivel que nos rege, que é álibe de casos e salvador de outras por aí...da mesa da cozinha à bancada do Senado : -É culpa da mídia. E quem é a mídia? Cenas para os próximos capítulos, vamos discutindo, adotando o gerúndio, porque neste espaço, podemos...

Bem, "Não Perca as Crianças de Vista" criou uma essência para minha reportagem do TCC e em um brevíssimo encontro com Falcão no camarim tive oportunidade de contar sua "participação" na suada investigação. A gente ouve, sente e reflete por aí...me ajudou a não desistir...

Um pedacinho da música posta na minha epígrafe:

Os jornais não me informam mais
E as imagens não são tão claras
Como a vida
Vou aliviar a dor e não perder
As crianças de vista, crianças de vista

Não Perca as Crianças de Vista



ps: Se não fosse meus colegas da imprensa : Patrícia e Eduardo do Notícias do Dia não teria tirado a foto, valeu a pena ê ê!

domingo, 16 de agosto de 2009

Outro jornalismo é possível...

Que função temos nós jornalistas? Lembro-me quando estava para decidir o curso que a ideia era salvar o mundo. A utopia dos jovens adolescentes é tão linda, mas vai se esvaindo, perdendo forças...

Eis que nesta semana algo de bom aconteceu, às vezes acontecem, rendem frutos e temos que festejar, porque aquece a esperança.

Tive ideia de fazer uma reportagem sobre as bandas do município de Governador Celso Ramos. Apresentei a proposta à editora do jornal, ela gostou e fomos gestando juntas. Quem pôde ler, sentiu a oportunidade que esses jovens criam sozinhos na sala de casa, para não buscar outros caminhos...

What are doing?

E a bronca deles, era a falta de incentivo. Então, o que era para ser uma reportagem para apresentar apenas o que a galera jovem da cidade está fazendo e que muitos nem sabiam, acabou virando uma "reivindicação".

Para terminar, esta semana me contato o secretário me solicitando o contato dos músicos, querem fazer um encontro musical no município. Segundo ele , "a matéria animou e tirou da gaveta um antigo projeto".

Sem me vangloriar, ganhei a semana!
Só em saber que por meio de uma folha de papel saem vozes e respiram vidas, fico feliz.


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A arte de ser Disc Jóquei

Usar fones de ouvido se tornou rotina para as pessoas. Na rua são como sapatos, estão sempre andando por aí...difícil não vê-los e muitas vezes até ouví-los...acho que tem gente que terá problemas sérios de audição.

Bem, o MP3, 4 e outras versões que já me fogem ter conhecimento estão aí para beneficiar a galera fissurada em som. Música agrada, harmoniza, preenche o silêncio ou o cria, faz dançar, envolve, é uma delícia. Especialmente quando se gosta do ritmo e faz parte de momentos especiais.

Entre tantas facilidade da tecnologia, há os que ainda utilzam as mãos para manusear os discos, vinis. Tão raros e desconhecidos para muitos "Dj's". Isso, porque Disc Jóqueis são aqueles que têm como base da apresentação os discos vinis.

Em uma mesa de debate, durante o 2° Encontro de Dj's de Hip Hop da Região Metropolitana de São Paulo, três dj's profissionais opinavam sobre o mercado, a regulamentação da categoria, a educação por meio desta arte...


Eram eles: o tricampeão brasileiro Dj Eric Jay, o precursor do Hip Hop em São Paulo, dj Grand Master Ney e a dj Lisa Bueno, representando o público feminino. Segundo eles, o Dj é mais respeitado hoje no mercado e já criou sua marca, mas é preciso atentar para o estudo da base, que é o vinil. Nenhum deles se mostrou avesso às novas aparelhagem que a teconologia disponibilizou, e a utilizam.

Eric lembra que ainda é difícil estudar a arte e o interesse pessoal ainda prevalece. Em meados de 2000 ele diz que pôde comprar os primeiros aparelhos para seguir carreira. Os equipamentos são caros e dificilmente se encontra lugares para aprender.

A Dj Lisa é uma dos poucos que se dedica e ensinar a arte de disc jóquei. Há 10 anos ela montou uma escola de cursos e produção musical. Diz que há preconceito em relação á participação feminina, e que aos pouco novatas vão surgindo.

O fato é que o dj já tomou seu lugar no entretenimento. Fazer uma festa ao som de um é super normal. O espaço alto no meio delas é comum. Ney explica que há os chamados performances, que utilizam o corpo para compor o cenário e chamam mais a atenção por isso, do que propriamete pelo som. Segundo ele, o desempenho é uma atração a mais, mas o que deve importar é o desempenho nas mesas.

Confira abaixo um pedacinho da batalha de Dj's do primeiro dia do Encontro, que reuniu dançarinos de break: B'boys e B'girls, grafiteiros e Mc's.


sábado, 8 de agosto de 2009

De museu, só o nome


É apaixonante uma visita ao Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, do ladinho da Estação da Luz. Você desembarca do trem do metrô e se depara com um mundo das palavras, sons, gestos. A interatividade é a grande sacada desse espaço. Minha primeira visita foi em 2007 e foi paixão à primeira vista. Fiquei fascinada e encantada com os três andares da construção da língua portuguesa, sua histórias, manifestações e autores que fizeram dela, um meio de comunicação. Nesta época, escrevi no meu antigo blog mais detalhes sobre o espaço. Se quiser conferir no link, à vontade.



No momento, a Exposição Temporária, abriga "O Francês no Brasil em Todos os Sentidos". A exposição bem moderna e que recorre à fotografias, tecnologia, sons e videos, é uma das manifestações oficiais espalhadas pelo País do Ano na França no Brasil. Até o dia 11 de outubro é possível imergir neste cenário que envolve São Paulo e Paris, visitando o balé, a gastronomia, a modacultura popular e literatura.



A mescla entre as culturas francesa e brasileira, muitas vezes despercebida no nosso dia a dia, nem nos faz pensar que palavras como sabotagem tiveram origem naquele país. Ao som de Caetano Veloso, o ambiente que explica as greves iniciadas pelos trabalhadores franceses nas fábricas, apresenta que eles jogavam sapatos nas máquinas, com o objetivo de paralisá-las e consequentemente, prejudicar a produção. Daí a palavra sabotagem, de sapatos...


Em tempos de festas juninas, o balancê e todos os passos referentes à dança de casais, também remetem ao balé, cultura francesa. É um passeio que vale a pena, além dos demais andares, que abrigam as exposições fixas. No túnel do tempo, podemos assistir videos como esse abaixo. O último, que chama a atenção ao comparar a língua culta com a informal. Qual delas é a ideal? Para falar, tanto importa qual. E segundo este professor, não é a literatura que nos faz escrever melhor, e sim, os meios de comunicação, são os grandes responsáveis pela alfabetização e padronização da língua, em paralelo ao período estudantil.