Perguntei a ele por que trabalhava e ele me disse que precisava. Com olhos redondos e grandes, que contrastavam com sua pele morena, ele parecia assustado, olhava para os lados, não esperava que eu o intimasse a uma conversa. Disse-me que os pais tinham morrido e que a tia pedia que ele vendesse os doces para ajudar no orçamento. Falei para ele que não podia trabalhar, que era crime. Mas, ele não parecia entender.
O lanche
O encontro com a tia
O menino com quem eu conversava minutos, agora conversava com uma mulher que estava sentada na porta. Perguntei a ele o que fazia ali. A mulher olhou mim, depois para ele com ar inquisidor: “quem é ela?”. Nailson me olhou assustado, não sabia o que responder e deve ter pensado que tinha feito algo de errado. A mulher olhou para mim preocupada e esperava uma reposta do sobrinho. Nesse momento, outras três crianças, de idade inferior ao de Nailson estavam ao seu redor brincando entre as pernas.Falo para a tia, a mesma coisa que disse para o menino: “ele não pode trabalhar, é crime”. Ela diz que é a única solução, que traz ele para o centro somente nesse período de festas, pois não tem dinheiro para comprar as coisas que ele quer: roupa e sapatos. “Quando era criança, sempre trabalhei na rua. E nem por isso caí nas drogas. Vê como estou hoje”, alega a tia. Segundo a tia, que aparenta ter entre 25 e 30 anos de idade, os pais de Nailson são viciados em drogas. O pai, desde os 12 já conhece o que é a vida na cadeia. A mãe não quer saber dele. Por não ter quem o cuide, a tia o leva para o centro de Florianópolis para vender balas. “Ele já estava trabalhando de ‘olheiro’ no morro e não dá para deixar ele sozinho em casa”, diz ela.Durante a breve conversa na porta do banheiro público do Mercado Público de Florianópolis, Nailson só olhava e suspirava fundo. Para se desvencilhar das minhas perguntas, a tia arrumava as coisas e chamava as crianças para irem embora. Estava na hora. E na mesma hora, já apurada para ir ao banheiro, passei da porta. Foi o tempo para Nailson, a tia e as duas crianças sumirem. A caixa de balas nas mãos do menino é a lembrança amarga que ficou na mente.
Nossa! Parabéns! Muito lindo, bela descrição. E ñ me surpreende estar apurada para ir ao banheiro...
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